sexta-feira, 16 de setembro de 2011
























BIOGRAFIA



Maria de Fátima Gouveia nasceu a 18 de Maio de 1950 em Malveira,  aos dois anos foi viver para Lisboa onde estudou e casou. Após concluir o Curso Geral do Comércio, abandonaria o curso complementar para ingressar no Externato Sá Miranda com a intenção de mais tarde entrar na Faculdade das Belas Artes. Foi nesse externato que descobriu a paixão pela escrita. Foi técnica administrativa, empresária e decoradora, tendo adquirido vários cursos técnicos e profissionais. Presentemente vive em Figueiró dos Vinhos.
Estreou-se na literatura em 2010 com o romance Jogos de Perfídia editado com a chancela da Temas Originais. Obra que recebeu excelente aceitação pelos seus leitores e também pela crítica. Ainda em 2010 participa na III Antologia do Horizontes de Poesia.
Raízes do Pecado é um romance de caráter autobiográfico, que foi editado em Dezembro de 2011 pela Lua de Marfim  



   







       


                                      http://www.luademarfim.pt/page92.html



                   
       
              
                     
                       RAÍZES DO PECADO






(Excerto)


Deus fez o ser humano à sua imagem. Criou o homem e a mulher, abençoou-os e disse: «Crescei e multiplicai-vos, enchei a Terra!». E, assim, muitas crianças foram proliferando no mundo como flores em campos de esterco.
É comum dizer-se que as crianças são o que há de melhor no mundo. Então, quais as razões que levam tantas a transformar-se em adultos amargurados?
A vida está em permanente mutação. Tudo muda à nossa volta. Mudam as nossas vontades, os nossos gostos, os nossos sonhos…
 Não seria racional aceitarmos, com mais tolerância, o que de pior a vida nos oferece, se tudo é efémero?
 Se nos surge um obstáculo cuja resolução está para além das nossas capacidades, devemos encarar o facto e arrumá-lo. É irracional vivermos ancorados às mágoas dum passado quando nada pode ser alterado. Para além de nos perturbar o presente, pode comprometer o futuro.
 Todos sabemos que a alegria não é um sentimento constante. Tal como um acontecimento trágico concorre para uma tristeza mais ou menos prolongada, mas não definitiva. Quando isso acontece, algo está mal.
 Há quem julgue que a felicidade está nos projectos concretizados, nas ambições materializadas…A chamada realização pessoal. A felicidade é um sentimento que brota de dentro para fora, não o contrário. E ainda que seja abalada temporariamente, ela não depende de mais nada senão da própria vontade. Mas quando essa vontade teima em não emergir, o melhor mesmo é pedir ajuda a um profissional.

 Um dos ensinamentos que se devia ministrar às crianças, na escola, devia ser a psicologia positiva. Acredito que, no futuro, se evitariam muitas doenças do foro neurológico e outras subsequentes, suicídios e tanta gente desconfortável consigo própria. Não devemos deixar que a nossa vida apodreça num lamaçal de angústias ou frustrações como fez a mulher que, neste romance, vos relata a sua história. Uma mulher que viveu atormentada pelas lembranças duma infância e juventude marcadas pela rejeição, violência e falta de afecto.
 Este relato emocionante fê-la reviver todos os dramas por que passou. Um doloroso exercício de memória em que teve de pesquisar factos, desmontar calúnias, perceber as verdades ocultas nos acidentes da vida, que escaparam a um raciocino delineado pela raiva que alimentou durante anos.
Quando o concluiu, confessou ter florescido no seu coração a benevolência resultante dum melhor entendimento sobre as fraquezas humanas.

*

Nasci numa pequena aldeia, algures no país, no princípio dos anos dourados. Precisamente no ano e mês em que Robert Schuman apresentou uma proposta para formar uma Europa unida e pacificada. Estava desenhado o perfil da União Europeia.
 Foi uma época muito evolutiva. Acredito que a explosão tecnológica do pós-guerra teve influência na mudança comportamental das pessoas.
 O fim da Segunda Guerra Mundial dera-se cinco anos antes e a Europa, qual Fénix, renascia das próprias cinzas.
Em Portugal presidia Óscar Carmona, mas quem dirigia, com mão de ferro, o destino da nação era o Professor Doutor Oliveira Salazar, na qualidade de Presidente do Conselho de Ministros.
Idolatrado por uns, odiado por outros, Salazar foi um estadista muito competente para gerir as Finanças do país, mas severo no seu objectivo. De tal modo que encheu os cofres do Estado à custa do sacrifício dum povo que fenecia pobre e ignorante.
 Os órgãos de comunicação social só podiam divulgar o que não fosse tingido pelo chamado «lápis azul». A censura vetava qualquer notícia que pudesse beliscar a ditadura ou despertasse no povo ideias de revolta.
No Estado Novo quase tudo era proibido. O medo espreitava nas ruas, nas casas, nos empregos, no seio das famílias, em todo o lado. Toda a gente se continha em manifestar o seu descontentamento, sabendo que as prisões estavam repletas de presos políticos.
Dizia-se à boca pequena que havia delatores infiltrados em todos os meios para informar a Policia Política de qualquer movimento anti-regime. A PIDE ia buscar os revolucionários para os interrogar, torturar ou pior, deportando alguns para o Tarrafal, ou para o conhecido «Campo da morte lenta»,situado na ilha de Santiago em Cabo-Verde.

Foi na Era Negra da nossa História que germinei no ventre da minha mãe, para eclodir no meio dum miserabilismo insano.
 Ignoro o dia exacto em que nasci por ter sido adulterado, para se furtarem ao pagamento da multa que era aplicada nos registos efectuados fora do prazo estabelecido pela lei. E a minha mãe, com o tempo e os muitos filhos que teve, perdeu-se nas contas.
Mas afirmaria sempre ter-me parido em casa. Acredito, porque naquele tempo era prática comum, principalmente nos meios rurais.
 Fui a terceira de nove filhos, mas apenas oito chegariam à idade adulta: quatro rapazes e quatro raparigas. Um menino morreria devido a uma infecção provocada pela mordidela de um rato.
 A união dos meus pais resultou numa calamidade que durou até a morte os separar. Nunca seria oficializada, dando origem a que os filhos fossem considerados ilegítimos.
 O desconforto que se instalou entre a família do meu pai e a da minha mãe provocaria graves consequências no futuro de todos nós.
 Os meus pais viveriam sempre abaixo do limiar da pobreza. Não por inércia, mas porque o nosso progenitor não arranjava empregos estáveis, em virtude de ter uma fraca compleição física e saúde periclitante.
Em jovem sofrera um grave acidente que o colocara entre a vida e a morte. Por essa razão, sobrevivia unicamente de «biscates» que conseguia angariar. Trabalhos de pouca monta, que não exigiam demasiado esforço, mas que rendiam pouco dinheiro. Apesar das dificuldades económicas, foram pródigos a gerar filhos.
 Naquele tempo era comum existirem famílias muito numerosas e com escassos rendimentos, que mal lhes davam para forrar o estômago com um prato de sopa e um pedaço de pão.
 Era o retrato dum país castrado dos mais elementares direitos.
Para agravar esta precariedade, o Estado Novo incentivava o consumo do vinho que funcionava como «ópio» para o povo ignorar a paz podre em que vivia.
A comprovar este facto, havia cartazes espalhados pelas cidades que tinham impressos um copo de vinho e três espigas de trigo, sublinhados com uma apelativa mensagem: «Beber vinho é dar o pão a um milhão de portugueses».

Um povo que esperançava numa fé profunda em Nossa Senhora de Fátima, que vibrava com o hóquei em patins, e se deixava embalar aos acordes tristes do Fado.
É certo que a pobreza e a ignorância reinavam no país, mas a nossa família vivia num miserabilismo absoluto. 
                          




Vídeo (pequeno excerto) da entrevista na TVI no programa  A TARDE É SUA, com a apresentadora Fátima Lopes.


Vídeo do lançamento da obra em Dezembro de 2011 no Auditório do Campo Grande em Lisboa
                                                   
 DIVULGAÇÃO DA OBRA

 APRESENTAÇÃO EM MAFRA - Aconteceu em 11 de Fevereiro de 2012  na Biblioteca Municipal D. Pedro V

PRÓXIMOS EVENTOS:

VILA NOVA DE GAIA - 12 de Maio





   SEIXAL - 18 de Maio



                                                   Obrigada pela visita









Maria de Fátima Gouveia